Estima-se que o Cerrado, que ocupa 61% do território do Mato Grosso do Sul, receba anualmente cerca de 600 milhões de litros de agrotóxicos, segundo dados alarmantes revelados pelo dossiê “Vivendo em Territórios Contaminados”. Essa pesquisa, elaborada pela Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, em parceria com a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), revela a presença de substâncias proibidas em outros países, mas livremente utilizadas no Brasil, como o glifosato e o metolacloro.
O crescimento exponencial das lavouras de soja no Cerrado, que aumentaram cerca de 1.440% entre 1985 e 2021, ocupando 10% de sua área total, é uma das principais causas desse uso excessivo de agrotóxicos. Essa cultura demanda a maior quantidade de produtos químicos, sendo responsável por mais de 63% do total aplicado. No entanto, apenas 32% do volume pulverizado atinge efetivamente as plantas-alvo, enquanto 49% vai para o solo e 16% fica disperso no ar, de acordo com o estudo.
Além disso, a pesquisa revela que muitos dos agrotóxicos utilizados são proibidos em outros países devido aos riscos que representam para a saúde humana e o meio ambiente. Somente entre 2019 e 2022, mais de 1.800 agrotóxicos tiveram seu uso liberado no Brasil, sendo que pelo menos metade deles é proibida na Europa.
Essa contaminação por agrotóxicos não afeta apenas o ar, as plantações, as águas, a terra e a biodiversidade do Cerrado, mas também impacta comunidades indígenas, quilombolas e tradicionais que sofrem diariamente com os efeitos dessas substâncias tóxicas.
O Cerrado é um bioma rico em biodiversidade, abrigando cerca de 5% da biodiversidade terrestre. No entanto, o uso indiscriminado de agrotóxicos ameaça seriamente essa riqueza natural, colocando em risco espécies vegetais e animais únicas.
É necessário que medidas sejam tomadas para mitigar o uso excessivo de agrotóxicos no Cerrado, promovendo práticas agrícolas mais sustentáveis e respeitosas com o meio ambiente. A preservação desse bioma é fundamental para a manutenção da biodiversidade e para garantir a qualidade de vida das comunidades que dependem dos recursos naturais da região.
O alerta está lançado e é preciso agir para proteger o Cerrado e suas preciosas riquezas naturais.