Quase uma semana após ser preso, Francisco Cezário de Oliveira, presidente da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul (FFMS), de 77 anos, quebrou o silêncio. Reconhecido no futebol sul-mato-grossense por seu longo período à frente da entidade, Cezário declarou ser inocente das acusações de desvio milionário de verbas destinadas ao esporte e pediu afastamento do cargo.
Em nota assinada por ele às 11h45 desta segunda-feira (27), enviada à imprensa por seu advogado André Borges, Cezário afirmou que continuará “obediente ao ordenamento legal e às determinações judiciais” enquanto aguarda as providências estatutárias para seu licenciamento formal. O objetivo do afastamento, segundo ele, é “preservar a FFMS, seus filiados e campeonatos”.
Investigado na Operação Cartão Vermelho, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado), Cezário mencionou a repercussão e os boatos sobre sua prisão e destacou que “a verdade dos fatos será demonstrada no curso das investigações e processos”. Ele assegurou que provará “a total legalidade dos atos praticados” como presidente da FFMS.
Tribunal e Substituição
O presidente do Tribunal de Justiça Desportiva de Mato Grosso do Sul (TJD-MS), Patrick Hernands Santana Ribeiro, afirmou que ainda não recebeu o pedido de licença formalmente. Segundo ele, o afastamento não necessita de chancela do tribunal, mas a nomeação do substituto pode gerar um impasse, já que o estatuto da FFMS determina que o próprio presidente nomeie seu substituto entre os vice-presidentes em caso de viagem ou força maior.
Operação Cartão Vermelho
Na terça-feira (21), Francisco Cezário foi preso pelo Gaeco, suspeito de comandar um esquema de desvio de milhões da FFMS. Em sua residência, de alto padrão na Vila Taveirópolis, em Campo Grande, foram apreendidos mais de R$ 800 mil em espécie. Cezário está sob prisão preventiva e foi levado para uma cela especial no Presídio Militar Estadual, acompanhado por representantes da OAB devido ao seu registro ativo como advogado.
O Gaeco revelou que, em 20 meses de investigação, constatou que a organização criminosa desviava valores do Estado e da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) em benefício próprio e de terceiros. Entre as práticas ilícitas, estavam frequentes saques de valores até R$ 5.000,00 das contas da FFMS, somando mais de 1.200 saques e ultrapassando R$ 3 milhões. O esquema também incluía desvio de diárias de hotéis pagas pelo Estado durante o Campeonato Estadual de Futebol, resultando em um desvio total de mais de R$ 6 milhões entre setembro de 2018 e fevereiro de 2023.
Defesa de Cezário
O advogado de Cezário, André Borges, afirmou que a quantia encontrada na casa tem origem lícita e será esclarecida no momento oportuno. “Não é crime manter dinheiro em casa”, disse Borges.
O caso segue em investigação, enquanto Cezário aguarda o desenrolar do processo e a formalização de sua licença da presidência da FFMS.
Foto: Henrique Kawaminami