O Brasil presencia um contraste dramático envolvendo dois rios Taquari em regiões distintas do país. Enquanto o Rio Taquari no Rio Grande do Sul enfrenta uma enchente histórica, com o nível das águas atingindo 33,35 metros, o maior em 150 anos, o Rio Taquari em Mato Grosso do Sul luta contra o assoreamento, um problema que ameaça sua existência desde a década de 1960.
Especialistas destacam que o assoreamento do Taquari sul-mato-grossense, considerado um dos maiores desastres ambientais do Pantanal, tem suas raízes na combinação de fatores naturais e na ocupação irregular da terra para agropecuária. O ambientalista e doutor em Ecologia e Conservação pela UFMS, José Milton Longo, explica que ambos os rios sofrem com a ação da gravidade e a intervenção humana, embora de maneiras diferentes. Enquanto o Taquari de Mato Grosso do Sul enfrenta o acúmulo de sedimentos devido ao desmatamento e à pastagem, o Taquari gaúcho sofre com o impacto das mudanças climáticas e a ocupação irregular em áreas de risco.
Estudos da Associação Brasileira de Recursos Hídricos mostram que, entre 1974 e 2000, a taxa de desmatamento na bacia do Alto Taquari saltou de 5,6% para 62%. Dados do MapBiomas indicam que, entre 2000 e 2020, a região perdeu 851 km² de formações florestais e 1.565 km² de formações savânicas. A preservação das matas ciliares é apontada como uma solução vital para controlar o assoreamento, já que essas vegetações nativas ajudam a regular a vazão das águas e reter sedimentos.
José Milton destaca a relação entre o ciclo da água e do clima, ressaltando que eventos extremos como ondas de calor, secas e inundações impactam diretamente a disponibilidade de recursos hídricos e podem desencadear crises. A situação dos dois rios Taquari exemplifica os desafios ambientais distintos que o Brasil enfrenta, exigindo uma atenção urgente e soluções integradas para preservar esses recursos naturais essenciais.